Resumo
Este artigo propõe uma análise crítica sobre os Sete Pecados Capitais, com foco na avareza, entendida como o apego desmedido aos bens materiais e a negação da generosidade. Partindo de sua origem filosófica e teológica, o texto faz um paralelo com os princípios da Maçonaria, que orientam o obreiro à superação dos vícios por meio do desapego e do serviço desinteressado ao próximo. A avareza é tratada aqui não apenas como um vício moral, mas como um obstáculo à fraternidade e à evolução espiritual, sendo combatida simbolicamente no Templo maçônico por meio da prática da caridade e do desprendimento.
Introdução
Entre os Sete Pecados Capitais descritos por São Gregório Magno no século VI e sistematizados por São Tomás de Aquino na Suma Teológica, a avareza ocupa um lugar de destaque por representar um vício particularmente disfarçado de virtude em muitas sociedades modernas. Com o avanço do capitalismo, a acumulação de bens tornou-se sinônimo de sucesso, e o desejo de possuir foi naturalizado como parte da vida social e econômica.
Na tradição filosófica e teológica, no entanto, a avareza é tratada como o desejo desordenado de possuir, que gera egoísmo, insensibilidade social e desvio moral. Segundo Aquino (2001), ela é “o amor desmedido às riquezas, em detrimento das virtudes superiores da alma”. Já para a Maçonaria, que se baseia no desenvolvimento moral e espiritual do ser humano, a avareza é uma paixão que cega e impede o avanço do obreiro na construção do seu Templo Interior.
A presente reflexão propõe uma abordagem simbólica da avareza, à luz dos princípios maçônicos, demonstrando como esse vício pode se manifestar de forma sutil até mesmo nos espaços de fraternidade, e como pode ser combatido por meio da prática da caridade, do desapego e da consciência espiritual.
Desenvolvimento
A natureza moral da Avareza
A palavra “avareza” deriva do latim avaritia, e representa o desejo intenso e descontrolado de acumular bens ou riquezas. Este apego, muitas vezes, ultrapassa a necessidade e invade o território do egoísmo, tornando o indivíduo cativo daquilo que possui. Tomás de Aquino (2001) descreve esse vício como uma forma de idolatria, onde o homem passa a adorar o ouro em lugar do Divino.
No campo social, a avareza gera desigualdade, exclusão e miséria. No campo pessoal, ela alimenta a ansiedade, a paranoia e a infelicidade. Não à toa, ela é condenada por várias tradições religiosas e filosóficas, desde os filósofos gregos até os ensinamentos cristãos, budistas e islâmicos.
A Avareza na simbologia maçônica
A Maçonaria, enquanto escola de formação moral, ensina que o verdadeiro valor não está nas posses materiais, mas na construção interior. Ao ser iniciado, o maçom aprende que sua verdadeira riqueza está no conhecimento, na prática da virtude e na fraternidade com seus Irmãos.
O combate à avareza aparece simbolicamente na ritualística, especialmente nos trabalhos em Loja, onde o individualismo e o egoísmo devem dar lugar à colaboração e ao altruísmo. O Templo simbólico só pode ser edificado com desprendimento: aquele que entra buscando status, prestígio ou vantagens pessoais está ainda apegado às ilusões do mundo profano.
A avareza, nesse contexto, pode se manifestar na resistência a contribuir com o coletivo, na apropriação do saber sem compartilhamento, ou na busca incessante por títulos e cargos, esquecendo-se da essência da jornada iniciática. O maçom é lembrado constantemente de que tudo é transitório, exceto o que é construído com ética, virtude e amor ao próximo.
Virtudes opostas à Avareza na Maçonaria
A avareza encontra seu antídoto natural na prática da caridade e da temperança. A caridade, no sentido maçônico, não é apenas uma esmola material, mas a capacidade de compartilhar tempo, saber, escuta e presença. A temperança, por sua vez, ajuda o obreiro a manter o equilíbrio diante das tentações do acúmulo.
Outros valores maçônicos que se contrapõem à avareza incluem:
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Fraternidade: ao reconhecer o outro como Irmão, o maçom deixa de se ver como centro do mundo.
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Trabalho desinteressado: o verdadeiro trabalho maçônico é feito sem esperar recompensa.
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Justiça: agir com equidade é incompatível com o egoísmo característico do avarento.
Conclusão
A avareza é um veneno silencioso. Ela se disfarça de prudência, de planejamento, de ambição legítima. Mas, em sua essência, desvia o homem de seu propósito maior: ser um ser ético, fraterno e espiritualmente livre. Para o maçom, combater a avareza é mais do que uma questão moral: é um dever iniciático.
Por meio da lapidação de seus vícios, o obreiro deve aprender a transformar o desejo de posse em desejo de servir. A verdadeira luz não pode ser acumulada, apenas compartilhada. E é nesse espírito que a Maçonaria aponta o caminho da superação da avareza: pela caridade, pela generosidade e pelo reconhecimento de que as maiores riquezas não são tangíveis, mas morais e espirituais.
Referências Bibliográficas
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