Resumo
A inveja, um dos mais silenciosos e corrosivos dos Sete Pecados Capitais, consiste na tristeza diante do bem alheio e no desejo de que o outro perca aquilo que possui. Este artigo explora o conceito de inveja sob o ponto de vista filosófico e espiritual, com ênfase na doutrina maçônica, que prega a valorização do mérito, o progresso interior e a fraternidade verdadeira. A inveja, dentro da Maçonaria, é combatida por meio do reconhecimento sincero das virtudes alheias e do trabalho próprio, evitando comparações destrutivas. O obreiro é convidado a transformar a inveja em admiração, e o ressentimento, em motivação para o aprimoramento pessoal.
Introdução
Entre os vícios capitais, a inveja destaca-se por seu caráter silencioso e sorrateiro. Ela raramente se expressa abertamente, preferindo agir nas sombras, com comentários disfarçados, olhares de desprezo e atitudes passivo-agressivas. O invejoso, incapaz de se alegrar com as conquistas do outro, sente-se diminuído pela ascensão alheia e deseja inconscientemente que o outro fracasse.
A tradição cristã condena a inveja não apenas por ser um sentimento mesquinho, mas porque ela rompe os laços da caridade e da comunhão. Para São Tomás de Aquino (2001), a inveja é uma tristeza diante do bem do próximo. Dentro da Maçonaria, esse sentimento é incompatível com os princípios de fraternidade e reconhecimento do esforço individual. O verdadeiro maçom exalta o mérito do irmão, inspira-se em sua trajetória e volta-se para sua própria construção moral.
Desenvolvimento
O que é a Inveja
Do latim invidia, a palavra originalmente se refere a “olhar com malícia”. A inveja é uma forma de ressentimento, onde a felicidade alheia provoca incômodo em vez de inspiração. O invejoso não quer apenas o que o outro tem — ele deseja que o outro não tenha. É uma paixão negativa, destrutiva, que mina relações, corrompe ambientes e impede o crescimento coletivo.
No contexto atual, a inveja é amplificada pelas redes sociais, onde as aparências são valorizadas e a comparação é constante. Muitos se medem pelos filtros dos outros e, sentindo-se inferiores, desenvolvem sentimentos hostis sem sequer perceber.
Inveja na simbologia maçônica
A Maçonaria combate a inveja desde os primeiros graus. O símbolo do Compasso nos ensina a manter o controle sobre os desejos, enquanto o Esquadro nos orienta a agir com retidão e justiça. O crescimento de um Irmão deve ser celebrado, pois representa a força da coluna que sustenta o Templo simbólico.
Dentro da Loja, a inveja pode se manifestar quando um Irmão se ressente dos avanços de outro, da sua eloquência ritualística, da sua liderança, ou mesmo do reconhecimento recebido. Esse sentimento, quando não reconhecido e tratado, pode gerar divisões, disputas silenciosas e quebra da harmonia.
Por isso, a Maçonaria insiste na prática do elogio justo, do incentivo fraterno e do combate ao ego. O mérito deve ser reconhecido, mas jamais usado como instrumento de vaidade — e menos ainda como motivo de ressentimento por parte dos demais.
Virtudes maçônicas contra a Inveja
A Maçonaria oferece um conjunto de virtudes que se contrapõem diretamente à inveja:
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Humildade: reconhecer que cada um tem seu tempo e sua jornada.
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Admirar sem cobiçar: transformar a inveja em estímulo.
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Justiça: reconhecer o mérito com equidade.
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Fraternidade: trabalhar pelo bem coletivo, sem disputas.
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Gratidão: valorizar o que se tem, em vez de focar no que o outro possui.
O obreiro deve praticar o autoconhecimento e observar suas reações ao sucesso dos outros. Quando a inveja surgir, ele deve transformar essa emoção em admiração ativa: estudar o exemplo alheio e aplicá-lo em sua própria jornada de evolução.
Conclusão
A inveja é um vício disfarçado de justiça, pois muitas vezes se esconde atrás da crítica, da ironia ou do silêncio hostil. Na Maçonaria, ela não encontra espaço, pois o Templo só se ergue com pedras bem ajustadas — e cada pedra tem sua função e seu valor.
Vencer a inveja é valorizar a própria trajetória, cultivar a gratidão e respeitar o tempo de cada um. O maçom que supera esse vício fortalece a Loja, honra a tradição iniciática e constrói um espírito verdadeiramente livre. Ele compreende que o brilho do outro não ofusca o seu, mas acende luzes no caminho comum.
Referências Bibliográficas
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