O vaidoso é alguém que se preocupa muito com a opinião dos outros, enquanto o orgulhoso é alguém que se preocupa demais com sua própria opinião. Narciso, por exemplo, nutria uma autoconfiança excessiva e se considerava extremamente competente, apesar de ter um ego maior do que seu talento. Ele evitava trabalhar em equipe, criticava seus colegas em particular para seus superiores, e fazia piadas maliciosas e irônicas em público sobre eles.Embora seus colegas o achassem antipático, eles preferiam ignorá-lo e se concentrar no trabalho. Em uma apresentação importante para o presidente da empresa, Narciso insistiu em trabalhar sozinho e não considerou as contribuições de seus colegas nos slides, querendo monopolizar todo o crédito pelo sucesso. Ele destacou enfaticamente os “desafios” e “oportunidades” de outras áreas que prejudicaram o negócio. O resultado foi um desastre total, e o chefe de Narciso o demitiu.

A verdade é que os erros nos ensinam mais do que os acertos. Narciso aprendeu com seus erros que a humildade e a capacidade de trabalhar bem em conjunto são vitais para a empregabilidade e o sucesso em qualquer organização. Sorte para Narciso que ele aprendeu, pois outras pessoas com histórias correspondentes não aprenderam e continuam a causar dor e frustração para si mesmas e para aqueles ao seu redor. Mas não precisa ser assim.

Precisamos falar sobre o ego. Como o núcleo da nossa personalidade, ele é responsável por interpretar a realidade, nossas memórias e emoções. Ele influencia nossos pensamentos, moldando nossas posições e convicções com base nos impulsos sensoriais. O ego julga as pessoas ao nosso redor com base em nossos interesses e experiências pessoais, alimentando nosso instinto de sobrevivência e tentando nos proteger da vergonha, do bullying e da má exposição, ativando nossos mecanismos de defesa. Em última análise, o ego é responsável por moldar nossas crenças, ideias, valores e tomada de decisões.
A psicologia do Ego foi objeto de inúmeros estudos ao longo da história e está representada em muitos mitos e alegorias. Na literatura mundial grassam referências, histórias e personagens marcantes sobre ele.

O mito grego de Ícaro conta a história de um jovem que, ao tentar voar com asas de cera e penas feitas por seu pai Dédalo, para fugir do labirinto onde estavam presos, desobedece às instruções de não voar muito perto do sol. O jovem fica tão empolgado com sua habilidade de voar que acaba voando cada vez mais alto, até que o calor do sol derrete as asas de cera, ele cai no mar e morre. O mito destaca a questão do ego, mostrando como a arrogância e a falta de humildade podem levar à destruição e ao fracasso. Ícaro não conseguiu controlar seu desejo de voar mais alto e, assim, se tornou vítima de sua própria ambição.

No Mahabharata e no Bhagavad Gita, excerto sagrado deste grande épico hindu, Arjuna é um guerreiro habilidoso que está dividido entre o seu dever de lutar numa batalha contra a sua própria família e o seu desejo de evitar derramamento de sangue. Krishna cocheiro e mentor de Arjuna aconselha-o em questões de dever e retidão. Ao longo das suas conversas, a divindade Krishna enfatiza a importância de deixar de lado o ego e agir de forma altruísta de acordo com o seu dharma, ou dever. Arjuna aprende, por fim, a abandonar a sua afeição pelas suas próprias vontades e opiniões e segue a orientação de Krishna, o que o conduz à vitória final na batalha.

No livro de Provérbios, capítulo 16, versículo 18 diz: “A soberba precede a ruína, e a altivez do espírito precede a queda.” Esse exemplo bíblico mostra que o ego pode ser uma armadilha perigosa, que nos leva a nos ver como superiores aos outros e a tomar decisões imprudentes. A mensagem aqui é que devemos ser humildes e reconhecer a sabedoria dos outros, para que possamos evitar a ruína que acompanha a altivez do espírito.

No budismo, a palavra “ego” não é frequentemente usada, mas sim o termo “eu” ou “eu-ilusório” (em sânscrito: ahamkara; em pali: asmimana). O budismo enfatiza que o “eu” ou “eu-ilusório” é uma construção mental e não uma realidade objetiva e imutável. O objetivo da prática budista é transcender o “eu” e alcançar a iluminação ou nirvana.

“E não sigas as inclinações do ego (nafs), pois elas desviar-te-ão da senda de Deus. Em verdade, aqueles que se desviam da senda de Deus terão um severo castigo”. O Alcorão ensina que o ego pode nos levar a fazer escolhas erradas e a nos afastar da verdadeira fé e do caminho correto. Em vez disso, devemos buscar a orientação de Deus e esforçar-nos para controlar nossos desejos e inclinações egoístas.

Alguns exemplos na literatura demonstram como o ego excessivo pode ter consequências devastadoras para um personagem: Macbeth de William Shakespeare, Raskolnikov em Crime e Castigo de Fyodor Dostoievsky, Dorian Gray em O Retrato de Dorian Gray de Oscar Wilde, Mr. Collins em Orgulho e Preconceito de Jane Austen. É atribuído ao filósofo francês Jean-Jacques Rousseau. No livro “Emílio ou Da Educação”, publicado em 1762 a frase de abertura deste artigo.

Muitos estudiosos, pensadores contribuíram significativamente para o campo da psicologia do ego ao longo dos anos e aqui menciono os mais conhecidos apenas para simplificar a pesquisa do leitor ou leitora que desejar ir mais a fundo. Sigmund Freud, fundador da psicanálise. Desenvolveu a teoria do ego como parte da estrutura da personalidade, juntamente com o id e o superego.
Carl Jung, psiquiatra suíço desenvolveu a teoria do inconsciente coletivo e do self, que são conceitos intimamente relacionados ao ego. Erik Erikson, psicólogo americano que propôs a teoria do desenvolvimento psicossocial, em que o ego desempenha um papel importante na formação da identidade e na resolução de conflitos psicológicos.

Heinz Kohut, psicanalista austríaco-americano que desenvolveu a teoria do “self psicológico”, que enfatiza a importância do ego para a saúde mental. Karen Horney, psicanalista alemã que propôs uma abordagem mais humanística e culturalmente orientada para a psicanálise, em que o ego desempenha um papel central na adaptação e na realização do potencial humano.

Recentemente eu li o livro “Um Novo Mundo – O Despertar de uma Nova Consciência” de Eckhart Tolle. E esta leitura despertou meu interesse sobre este assunto e querer me aprofundar nele. Para o autor o ego é a identificação que uma pessoa tem com sua mente e pensamentos, que geralmente resulta em uma sensação de separação e individualidade. Ele acredita que o ego é a principal fonte de sofrimento humano, pois leva as pessoas a se concentrarem excessivamente em si mesmas e a se identificarem com coisas como o status, o poder e a riqueza.

Segundo Tolle, para transcender o ego e alcançar um estado de paz interior e conexão com o todo, é necessário se tornar consciente do momento presente e se desidentificar com os pensamentos e emoções que surgem na mente. Ele enfatiza a importância da meditação e da prática da presença consciente para alcançar essa transformação interior.

Além disso, Tolle enfatiza que o ego é uma construção mental e não uma entidade real e permanente. Ele encoraja as pessoas a se libertarem da ilusão de que são exclusivamente suas mentes e a abraçarem uma perspectiva mais ampla e conectada com o universo.

Como pode uma palavra de apenas três letras abranger tantos significados e gerar tamanha confusão, sofrimento e desconexão? Desde os primórdios da civilização, inúmeras referências, histórias e estudos foram feitos sobre o ego, mas ainda assim, parece que nada aprendemos. Para perceber isso basta olharmos para o lado ou principalmente para dentro. Continuamos a viver sob a percepção fictícia do que acreditamos ser.

É preciso adquirir um mínimo de domínio sobre nós mesmos para enxergar a vida em toda a sua plenitude. É importante lembrar que nós criamos a realidade. Ao olhar para alguém, muitas vezes a rotulamos e agimos de acordo com nossos preconceitos e experiências anteriores, projetando nossas próprias vivências passadas no presente e chamando isso de realidade. E assim, reproduzimos esse padrão mental repetidamente ego relacionando-se com ego, há muitas gerações é assim.

O ego é face crucial da personalidade humana, mas pode se tornar uma armadilha perigosa se não tivermos consciência. Um ego descontrolado pode levar à soberba, à falta de humildade e, fatalmente, ao fracasso e à destruição. As histórias e os mitos que mencionei (e muitos outros que não mencionei) vem alertando desde o início de nossa civilização sobre os perigos do ego inflado, reforçando a importância da humildade, da cooperação e da sabedoria coletiva. Aprendemos essas lições?

É vital, portanto, aprender com os erros e ter a habilidade de avaliar com o olhar honesto sobre nós mesmos, reconhecendo limitações e estando dispostos a aprender e evoluir. A lição da história, dos estudos modernos da psicologia e do desenvolvimento humano mostram que é essencial dominar o ego e trabalhar em conjunto em prol do conjunto, valorizando a sabedoria dos outros. Isso pode levar a uma vida virtuosa, mais equilibrada, satisfatória e bem-sucedida, tanto pessoal quanto profissionalmente.

Artigo originalmente publicado no LinkedIn:

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