Resumo
A soberba, considerada o mais grave dos Sete Pecados Capitais, é o orgulho desmedido que leva o indivíduo a se colocar acima dos outros e, por vezes, acima do próprio Criador. Este artigo analisa a soberba à luz da filosofia moral e da doutrina maçônica, onde o autoconhecimento, a humildade e a fraternidade são fundamentos essenciais para o progresso iniciático. A soberba é um obstáculo à verdadeira sabedoria, pois impede o obreiro de reconhecer suas limitações e aprender com o coletivo. A Maçonaria, como escola de lapidação do espírito, oferece os instrumentos simbólicos para vencê-la e edificar o Templo interior com retidão e consciência.
Introdução
A soberba, também chamada de orgulho excessivo, é historicamente apontada como a raiz de todos os outros pecados capitais. É a exaltação do ego em detrimento da razão, da empatia e do senso de justiça. Para São Tomás de Aquino (2001), a soberba é o desprezo da submissão, não apenas aos outros homens, mas ao próprio Deus.
Na sociedade moderna, a soberba se manifesta de forma sutil: na arrogância travestida de autoconfiança, na vaidade intelectual, na busca desenfreada por prestígio e superioridade. No ambiente maçônico, onde a igualdade e o respeito mútuo são pilares fundamentais, a soberba aparece como um risco grave ao espírito da Ordem. A Maçonaria ensina que todo obreiro é aprendiz — mesmo que tenha alcançado altos graus — e que sem humildade não há iluminação possível.
Desenvolvimento
O que é a Soberba
O termo “soberba” vem do latim superbia, que indica altivez, arrogância ou vaidade exagerada. A soberba não é apenas o orgulho do que se é ou do que se tem, mas a convicção de que se é superior aos outros — e de que se está acima das leis, da moral ou da razão.
Ao contrário do orgulho digno — aquele que decorre da superação pessoal e do respeito a si mesmo — a soberba é uma distorção do amor-próprio. Ela cega o indivíduo, o impede de ouvir conselhos, de reconhecer erros e de aprender com a experiência alheia.
Na teologia cristã, a soberba foi o pecado de Lúcifer, que desejou ocupar o trono do Altíssimo. No plano humano, ela continua sendo a tentação de se tornar o próprio centro do universo.
Soberba na simbologia maçônica
Na Maçonaria, o autodomínio é fundamental, e a soberba é um obstáculo direto ao progresso iniciático. Aquele que se julga superior não está apto a aprender. O símbolo do Esquadro nos lembra de nivelar nossas ações; o Compasso, de limitar nossas paixões; e o Malho, de desbastar a pedra bruta — inclusive do excesso de orgulho.
A soberba pode surgir na Loja por meio da vaidade ritualística, da busca por reconhecimento, da disputa por cargos ou da arrogância intelectual. Quando o Irmão coloca seu ego acima do bem coletivo, ele compromete a harmonia da Oficina.
Por isso, a Maçonaria convida à humildade constante. A iniciação simbólica representa a morte do ego profano e o nascimento de um novo homem — aquele que reconhece sua ignorância e se compromete com a busca pela luz.
Virtudes maçônicas contra a Soberba
A soberba é vencida pelo cultivo das virtudes essenciais do caminho iniciático:
-
Humildade: reconhecer-se falível e sempre aprendiz.
-
Sabedoria: saber calar, ouvir e refletir antes de agir.
-
Justiça: tratar todos com equidade, independentemente de títulos ou posição.
-
Fraternidade: ver no outro um espelho e não um oponente.
-
Desapego: libertar-se da necessidade de aplausos, títulos ou vaidades.
O verdadeiro maçom não se envaidece com o avental que usa, pois sabe que o valor está no trabalho silencioso, no serviço fraterno e na coerência com os princípios que professa.
Conclusão
A soberba é o mais refinado e perigoso dos vícios, pois se disfarça de virtude. É fácil confundir autoridade com arrogância, segurança com altivez, liderança com dominação. No entanto, a Maçonaria ensina que o verdadeiro sábio é humilde, e que o verdadeiro mestre é aquele que serve.
Superar a soberba é uma tarefa diária, feita de silêncio, escuta e vigilância interior. O obreiro que reconhece esse vício em si deve agradecê-lo como sinal de alerta, e transformá-lo em impulso para a lapidação de sua pedra.
Só constrói verdadeiramente aquele que ajoelha diante do conhecimento, que aceita instrução e que caminha ao lado dos Irmãos, e não acima deles. Assim, o Templo simbólico será edificado com retidão — e o homem, elevado com dignidade.
Referências Bibliográficas
-
AQUINO, Tomás de. Suma Teológica. Trad. Alexander Broadie. São Paulo: Loyola, 2001.
-
FRANCO, Divaldo P. Leis Morais da Vida. Pelo Espírito Joanna de Ângelis. Brasília: FEB, 2006.
-
GOB – Grande Oriente do Brasil. Constituição do Grande Oriente do Brasil. Brasília: GOB, 2019.
-
LIMA, Claudio. Filosofia Maçônica. São Paulo: Madras Editora, 2008.
-
MACKEY, Albert G. Encyclopedia of Freemasonry. Masonic History Company, 1914.
-
SANTOS, Antônio dos. O Simbolismo Maçônico e o Controle das Paixões. São Paulo: Madras, 2015.
-
CHEVALLIER, Jean. Dicionário dos Símbolos. Rio de Janeiro: José Olympio, 1997.