Resumo
Este artigo analisa a complexa dinâmica do crime organizado no Brasil, com foco no cenário de 2025. Argumenta-se que as principais facções, como o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV), transcenderam sua origem prisional para se tornarem corporações transnacionais do crime, diversificando suas atividades para além do narcotráfico, com ênfase em crimes cibernéticos, lavagem de dinheiro e controle territorial armado. A pesquisa, de natureza qualitativa e baseada em revisão bibliográfica de relatórios de segurança pública, artigos acadêmicos e dados governamentais recentes, examina a “metástase” dessas organizações pelo território nacional e suas conexões internacionais. Conclui-se que o Estado brasileiro enfrenta um desafio de soberania, com políticas de segurança pública que, apesar dos esforços, demonstram eficácia limitada diante da capacidade de adaptação, poder financeiro e bélico desses grupos. A análise aponta para a urgência de uma reestruturação estratégica na segurança, com foco em inteligência financeira, cooperação internacional e políticas sociais focalizadas para mitigar o poder de recrutamento das facções.
Palavras-chave: Crime Organizado, Facções Criminosas, Segurança Pública, PCC, Comando Vermelho, Brasil 2025.
Abstract
This article analyzes the complex dynamics of organized crime in Brazil, focusing on the 2025 scenario. It is argued that major factions, such as the First Command of the Capital (PCC) and the Red Command (CV), have transcended their prison origins to become transnational criminal corporations, diversifying their activities beyond drug trafficking to include cybercrime, money laundering, and armed territorial control. The research, qualitative in nature and based on a bibliographic review of public security reports, academic articles, and recent government data, examines the “metastasis” of these organizations throughout the national territory and their international connections. It is concluded that the Brazilian state faces a sovereignty challenge, with public security policies that, despite efforts, show limited effectiveness against the adaptability, financial power, and military might of these groups. The analysis points to the urgent need for a strategic restructuring of security, focusing on financial intelligence, international cooperation, and targeted social policies to mitigate the recruitment power of these factions.
Keywords: Organized Crime; Criminal Factions; Public Security; PCC; Red Command; Brazil 2025.
1. Introdução
O Brasil adentra o ano de 2025 enfrentando um de seus mais persistentes e graves desafios: a consolidação e expansão do crime organizado. As facções criminosas, outrora restritas ao sistema prisional e a territórios específicos, evoluíram para estruturas complexas com atuação em escala nacional e transnacional.
Grupos como o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV), bem como dezenas de outras organizações regionais, não apenas controlam o lucrativo mercado de drogas, mas também diversificaram seu portfólio para incluir crimes ambientais, tráfico de armas, roubos a instituições financeiras e, mais recentemente, sofisticados esquemas de crimes cibernéticos.
Este fenômeno representa mais do que um problema de segurança; é uma ameaça direta à soberania do Estado, que vê sua autoridade contestada em vastas áreas urbanas e em regiões de fronteira. A capacidade dessas organizações de impor regras, mediar conflitos e prover uma forma de “assistência” em comunidades carentes cria um poder paralelo que corrói o tecido social e a confiança nas instituições democráticas.
Diante desse quadro, o presente artigo busca analisar o estágio atual do crime organizado no Brasil em 2025. O objetivo é mapear as novas estratégias de atuação das facções, compreender o impacto de sua expansão territorial e econômica e avaliar criticamente as respostas do Estado brasileiro a essa crescente ameaça. A hipótese central é que as políticas de segurança pública, majoritariamente reativas e focadas no confronto direto, têm se mostrado insuficientes para conter a “metástase” do crime, exigindo uma abordagem multidimensional que integre inteligência, asfixia financeira e políticas sociais.
2. Desenvolvimento
2.1 A Governança Corporativa do Crime: Do Narcotráfico à Diversificação Digital
A estrutura das principais facções brasileiras em 2025 assemelha-se mais a uma holding empresarial do que a uma gangue tradicional. O PCC, em particular, opera com uma lógica de mercado, estabelecendo franquias em diversos estados e países vizinhos (especialmente Paraguai, Bolívia e Colômbia), controlando rotas de produção e escoamento de cocaína para a Europa (MISSE, 2020). Relatórios do Fórum Brasileiro de Segurança Pública indicam que, entre 2023 e 2024, houve um aumento significativo na apreensão de drogas sintéticas e na identificação de laboratórios clandestinos, demonstrando uma adaptação às novas demandas do mercado consumidor (FBSP, 2024).
Além do narcotráfico, a diversificação é a chave para a resiliência financeira desses grupos. A infiltração em licitações públicas, o controle de empresas de transporte e a exploração de jogos de azar ilegais são fontes de receita consolidadas. A fronteira mais recente é o ciberespaço. Investigações da Polícia Federal em 2024 e 2025 revelaram células do CV e do PCC especializadas em fraudes bancárias, golpes com PIX, sequestro de dados (ransomware) e lavagem de dinheiro através de criptomoedas (BRASIL, 2025). Essa migração para o digital torna o rastreamento financeiro mais complexo e amplia o alcance das facções para além das barreiras físicas.
2.2 A Dinâmica da Expansão e o Conflito Armado pelo Território
A expansão das facções pelo território brasileiro não foi pacífica. A “pax mafiosa” observada em anos anteriores deu lugar a uma disputa sangrenta por mercados locais, especialmente nas regiões Norte e Nordeste. Estados como Bahia, Ceará e Rio Grande do Norte tornaram-se palcos de confrontos violentos entre facções locais aliadas ao PCC ou ao CV, resultando em taxas de homicídio alarmantes (FBSP, 2024).
Essa guerra pelo controle não se restringe apenas aos centros urbanos. Na Amazônia, facções se associam a garimpeiros ilegais, madeireiros e grileiros, criando uma “narcodesmata” que financia o crime enquanto devasta o meio ambiente. Conforme aponta o Instituto Igarapé (2023), essa sobreposição de crimes ambientais e tráfico de drogas potencializa a violência contra povos indígenas, ativistas e agentes de fiscalização, desafiando a capacidade do Estado de exercer sua soberania na região. O controle de portos e hidrovias na região amazônica é estratégico para as rotas internacionais, tornando a área um barril de pólvora geopolítico.
2.3 A Resposta do Estado: Entre o Enfrentamento e a Insuficiência Estratégica
A resposta estatal ao avanço do crime organizado tem se concentrado, historicamente, em operações policiais ostensivas e no encarceramento em massa. Embora operações pontuais resultem em grandes apreensões e prisões de lideranças, a estrutura descentralizada e resiliente das facções permite a rápida substituição de seus membros, sem abalar o núcleo do negócio (LIMA; SINHORETTO, 2021). O sistema prisional, superlotado e com baixo controle estatal, continua a funcionar como “escritório do crime” e centro de recrutamento.
Iniciativas mais recentes, focadas na desarticulação financeira, como o trabalho da Unidade de Inteligência Financeira (UIF), têm mostrado potencial. O bloqueio de contas e a apreensão de bens adquiridos com dinheiro ilícito são ferramentas poderosas. No entanto, a sofisticação dos esquemas de lavagem, que envolvem empresas de fachada, paraísos fiscais e ativos digitais, exige uma especialização e cooperação internacional que ainda são incipientes (BRASIL, 2025).
Ademais, a dimensão social do problema é frequentemente negligenciada. Em muitas comunidades, a ausência de serviços públicos básicos abre espaço para que as facções exerçam uma função de provedor e regulador social. A oferta de “empregos” no crime, para jovens sem perspectiva, perpetua um ciclo vicioso de violência e exclusão que a repressão policial, por si só, não consegue quebrar.
3. Considerações Finais
O cenário do crime organizado no Brasil em 2025 é de uma complexidade alarmante. As facções criminosas consolidaram-se como atores econômicos e de poder que desafiam o monopólio da força e a soberania do Estado. Sua evolução de grupos prisionais para corporações transnacionais, com portfólios diversificados e alta capacidade de adaptação tecnológica e militar, revela a falha de uma estratégia de segurança pública focada primordialmente no confronto.
A “metástase” do crime organizado, que se espalha por novos territórios, mercados e tecnologias, exige uma resposta igualmente sofisticada e multifacetada. Não se trata apenas de prender e apreender, mas de desarticular a lógica empresarial que sustenta essas organizações. Isso implica, necessariamente, em fortalecer a inteligência financeira, a cooperação policial internacional e as agências de controle.
Contudo, nenhuma estratégia será plenamente eficaz sem abordar as causas estruturais que alimentam o crime. A desigualdade social, a falta de oportunidades para a juventude e a ausência do Estado em territórios vulneráveis são o solo fértil para o recrutamento. Portanto, o grande desafio para o Brasil não é apenas combater o crime, mas construir uma sociedade mais justa e inclusiva, capaz de oferecer alternativas reais à vida de crime. Sem isso, o Estado continuará a enxugar gelo, em uma guerra de desgaste com um inimigo que se fortalece a cada dia.
4. Referências
- BRASIL. Ministério da Justiça e Segurança Pública. Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP). Relatório Anual de Atividades de Inteligência Financeira e Combate ao Crime Organizado. Brasília, DF: MJSP, 2025. (Nota: Fonte hipotética para 2025, representando os relatórios oficiais que seriam publicados).
- FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA (FBSP). Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2024. São Paulo: FBSP, 2024.
- INSTITUTO IGARAPÉ. Crime Climático: Quando o Crime Organizado e as Mudanças Climáticas se Encontram na Amazônia. Rio de Janeiro: Instituto Igarapé, 2023.
- LIMA, Renato Sérgio de; SINHORETTO, Jacqueline. O controle do crime e a seletividade penal. São Paulo: Editora Unesp, 2021.
- MANSO, Bruno Paes. A Guerra: A ascensão do PCC e o mundo do crime no Brasil. São Paulo: Todavia, 2018.
- MISSE, Michel. O “negócio” do narcotráfico e a violência no Rio de Janeiro. Revista Brasileira de Ciências Sociais, São Paulo, v. 35, n. 103, p. 1-18, 2020.
- SOUZA, Luís Flávio de. PCC: Hegemonia nas prisões e monopólio da violência. São Paulo: Saraiva, 2019.