Resumo

A luxúria, entre os Sete Pecados Capitais, é frequentemente reduzida ao desejo sexual desregrado, mas em sua essência representa a dominação dos impulsos sensoriais sobre a razão. Este artigo propõe uma análise filosófica e simbólica da luxúria à luz dos princípios maçônicos, que valorizam o domínio de si, a pureza moral e a retidão de intenções. Na Maçonaria, o desejo deve ser transmutado em energia criadora e direcionado à edificação pessoal e coletiva. Através da busca pelo equilíbrio, o obreiro é convidado a vencer os vícios da carne com a luz da consciência e a firmeza do caráter.

Introdução

A luxúria tem sido, ao longo da história, uma das paixões mais discutidas e combatidas por diversas tradições religiosas e filosóficas. Classificada por São Gregório Magno e sistematizada por Tomás de Aquino como pecado capital, a luxúria representa a entrega desmedida aos prazeres carnais, colocando os desejos do corpo acima da razão e do espírito.

Em um mundo onde a sensualidade é constantemente explorada pela mídia e pela cultura de consumo, a luxúria tornou-se não apenas aceita, mas muitas vezes estimulada. No entanto, a sua consequência moral continua sendo a alienação da verdadeira liberdade interior. Na Maçonaria, onde o objetivo é a construção do Templo interior e a evolução do espírito, a luxúria representa uma distração perigosa — uma força que, quando não controlada, desvia o obreiro do caminho da luz.

Desenvolvimento

O que é a Luxúria

Do latim luxuria, a palavra originalmente remetia à exuberância e excesso. Com o tempo, passou a designar o desejo carnal desenfreado, a busca compulsiva por prazer físico, especialmente sexual, sem vínculo com o amor, a responsabilidade ou a espiritualidade.

Tomás de Aquino (2001) define a luxúria como o uso desordenado da sexualidade, não apenas no ato em si, mas na intenção, na fantasia, na manipulação e na obsessão. Trata-se da inversão dos fins: o prazer, que deveria ser expressão da união e do afeto, torna-se fim em si mesmo, alienando o indivíduo de sua dignidade e do bem comum.

A luxúria também pode se manifestar como vaidade, narcisismo, sedução irresponsável e erotização de tudo — atitudes que reduzem o outro a objeto de uso, e não a sujeito de afeto e respeito.

Luxúria na simbologia maçônica

A Maçonaria ensina que o corpo é templo do espírito, e que o homem livre e de bons costumes deve buscar o equilíbrio entre matéria e espírito. A luxúria, quando domina o ser, rompe esse equilíbrio e transforma o construtor em escravo dos próprios impulsos.

No contexto simbólico, a luxúria é uma das paixões a serem vencidas no processo de lapidação interior. O obreiro deve esculpir não apenas sua moral, mas seus instintos. Isso não significa repressão dos desejos, mas sim transmutação: elevar o desejo à beleza, à criação, à construção fraterna.

Além disso, a luxúria pode aparecer de forma sutil no comportamento do maçom — quando ele busca atrair para si olhares, quando transforma o ritual em espetáculo para alimentar o ego, ou quando permite que suas vaidades e conquistas pessoais se sobreponham à ética e à humildade.

Virtudes maçônicas contra a Luxúria

A Maçonaria não propõe o celibato ou o ascetismo extremo, mas sim a prática das virtudes que permitem ao homem dominar suas paixões:

  1. Temperança: moderação dos desejos, uso consciente dos sentidos.

  2. Pureza de intenções: agir com verdade, sem manipular ou seduzir para obter favores.

  3. Autodomínio: capacidade de governar o próprio corpo e suas inclinações.

  4. Castidade interior: não apenas ausência de ato, mas retidão nas escolhas afetivas e emocionais.

  5. Beleza espiritual: buscar o belo que eleva, e não o prazer que escraviza.

O processo maçônico é, acima de tudo, um trabalho de sublimação. A energia do desejo, quando dirigida ao bem, é força criadora. Quando voltada ao ego, à vaidade ou à dominação, torna-se autodestrutiva.

Conclusão

A luxúria, enquanto vício capital, não reside apenas no corpo, mas na mente e no coração. Ela representa a perda do eixo interior, a fuga do dever, e o esquecimento da ética. O maçom, como construtor de si mesmo, é chamado a identificar esse impulso e redirecioná-lo para a edificação do bem.

Vencer a luxúria é tornar-se senhor dos próprios instintos. É amar sem escravizar, desejar sem destruir, buscar o belo sem corromper. Na jornada maçônica, isso significa purificar a intenção, cultivar a disciplina e honrar o compromisso com a verdade.

O verdadeiro prazer está em servir, crescer e se elevar. Quando o obreiro compreende isso, a luxúria perde sua força, e a luz da consciência ilumina o Templo do seu ser.

Referências Bibliográficas

  1. AQUINO, Tomás de. Suma Teológica. Trad. Alexander Broadie. São Paulo: Loyola, 2001.

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