Resumo

A discrepância entre os benefícios, privilégios e gastos públicos destinados a políticos brasileiros e suecos revela profundas diferenças nos modelos de gestão e cultura política. Enquanto no Brasil prevalece um sistema com altos salários, verbas indenizatórias, cotas e benefícios indiretos, a Suécia adota um modelo de austeridade e transparência que limita gastos e aproxima os representantes da realidade socioeconômica da população. Este artigo realiza uma análise crítica, destacando fatores históricos, culturais e institucionais que explicam essas divergências, e discutindo implicações éticas e econômicas.

1. Introdução

A remuneração e os benefícios concedidos a parlamentares variam amplamente entre países, refletindo diferenças nos sistemas políticos, níveis de desenvolvimento e culturas institucionais. No Brasil, os salários e mordomias dos políticos estão entre os mais altos do mundo em termos proporcionais ao PIB per capita (Pereira, 2023). Na Suécia, ao contrário, prevalece um modelo que privilegia a moderação e a prestação de contas, alinhado à tradição escandinava de transparência e simplicidade administrativa (Lindvall, 2017).

2. O Modelo Brasileiro

No Congresso Nacional, cada parlamentar brasileiro recebe atualmente um salário bruto de R$ 41.650,92 (dados de 2024), além de verbas de gabinete que podem superar R$ 100 mil mensais, incluindo:

  1. Auxílio-moradia mesmo para quem possui residência em Brasília;

  2. Cotas para passagens aéreas e combustíveis;

  3. Verbas para contratação de assessores sem limites rigorosos de produtividade;

  4. Aposentadoria especial, desvinculada das regras gerais do INSS.

Estudos apontam que, somando salários, benefícios e custos indiretos, o gasto médio anual por parlamentar federal no Brasil supera R$ 10 milhões (Contas Abertas, 2022).


3. O Modelo Sueco

Na Suécia, parlamentares recebem cerca de 71.500 coroas suecas mensais (aproximadamente R$ 34 mil), sem adicionais significativos e sem benefícios extravagantes. Entre as principais diferenças:

  1. Não há carro oficial à disposição individual — deputados usam transporte público ou próprio;

  2. Auxílio-moradia é restrito e concedido apenas quando estritamente necessário, com prestação de contas;

  3. Gabinetes parlamentares são enxutos, com número limitado de assessores;

  4. As pensões seguem regras do sistema previdenciário nacional, sem regimes especiais.

Além disso, há fiscalização rigorosa e acesso público a notas fiscais e despesas individuais, fortalecendo a confiança no sistema (Bergman, 2020).

4. Análise Crítica Comparativa

A disparidade entre os dois modelos reflete não apenas questões econômicas, mas sobretudo culturais e institucionais. No Brasil, a tradição patrimonialista e a baixa eficiência no controle de gastos públicos favorecem a manutenção de privilégios (Faoro, 2001). Já na Suécia, a política é vista como um serviço temporário à coletividade, e não como carreira com benefícios vitalícios.

Outro ponto é a percepção pública: pesquisas do Datafolha (2023) indicam que 84% dos brasileiros consideram os benefícios parlamentares excessivos, enquanto na Suécia há elevada satisfação popular com o nível de gastos do Legislativo.

5. Implicações e Possíveis Caminhos

Reduzir mordomias no Brasil exige reformas estruturais:

  1. Estabelecimento de teto real para gastos com assessoria e cotas parlamentares;

  2. Vinculação de benefícios ao desempenho e à necessidade comprovada;

  3. Transparência em tempo real das despesas individuais;

  4. Mudança cultural na percepção do mandato político.

A experiência sueca mostra que é possível manter um Parlamento funcional e respeitado sem custos excessivos, desde que haja fiscalização e cultura de austeridade.

6. Conclusão

A comparação entre Brasil e Suécia expõe um contraste marcante: enquanto o modelo sueco busca alinhar a vida parlamentar à realidade da população, o brasileiro mantém um distanciamento significativo entre representantes e representados. O enfrentamento das mordomias não é apenas questão de economia, mas de fortalecimento da democracia e reconstrução da confiança pública.

Referências

  1. BERGMAN, T. The Riksdag: Functions and Organization of the Swedish Parliament. Stockholm: SNS Förlag, 2020.

  2. CONTAS ABERTAS. Relatório de Gastos do Congresso Nacional. Brasília, 2022.

  3. DATAFOLHA. Opinião Pública sobre Privilégios Parlamentares. São Paulo, 2023.

  4. FAORO, R. Os Donos do Poder: Formação do Patronato Político Brasileiro. 4. ed. São Paulo: Globo, 2001.

  5. LINDVALL, J. Politics and Policy in Sweden. Oxford: Oxford University Press, 2017.

  6. PEREIRA, C. Remuneração Parlamentar e PIB per Capita: Uma Análise Comparativa Internacional. Brasília: Ipea, 2023.

Sobre o Autor