Resumo
A Maçonaria, desde a sua consolidação moderna no século XVIII, posiciona-se como uma instituição filosófica, progressista e defensora da liberdade individual, da fraternidade e do direito à propriedade. Ao longo da história, seus membros estiveram envolvidos em movimentos de emancipação política e social, sempre combatendo regimes autoritários que buscavam suprimir a liberdade de pensamento. Entre os sistemas combatidos, destaca-se o comunismo, especialmente em suas manifestações totalitárias ao longo do século XX. Este artigo analisa a relação entre a Maçonaria e o combate ao comunismo, destacando o contexto histórico, os princípios filosóficos da Ordem e episódios marcantes no Brasil e no mundo. A análise revela que a oposição da Maçonaria ao comunismo se deve à incompatibilidade entre os valores maçônicos de liberdade e pluralidade com a imposição ideológica e a centralização de poder características dos regimes comunistas.
Palavras-chave: Maçonaria; Comunismo; Liberdade; Democracia; História.
Introdução
A Maçonaria é uma instituição secular, filosófica e filantrópica que, desde sua origem, promove a evolução moral, intelectual e social do ser humano. Com princípios pautados em liberdade, igualdade e fraternidade, a Maçonaria sempre defendeu a autonomia do indivíduo e o respeito à diversidade de opiniões. Estes valores a colocam, historicamente, em oposição a regimes que procuram impor ideologias únicas e restringir a liberdade de pensamento, como é o caso do comunismo.
O comunismo, inspirado principalmente nas obras de Karl Marx e Friedrich Engels, propõe uma sociedade sem classes, baseada na coletivização dos meios de produção e na extinção da propriedade privada. No entanto, a aplicação prática dessa ideologia, como visto na União Soviética, China, Cuba e outros países, frequentemente levou à formação de regimes autoritários que eliminaram liberdades fundamentais. A Maçonaria, que preza pelo livre-arbítrio e pela autonomia moral, vê nesses sistemas uma ameaça direta a seus ideais.
A oposição entre Maçonaria e comunismo não se limita a divergências econômicas, mas também filosóficas. Enquanto a Ordem defende a livre expressão da fé, sem caráter religioso institucional, o comunismo histórico, em sua vertente materialista, perseguiu religiões e movimentos filosóficos independentes, incluindo a própria Maçonaria.
No Brasil, a Maçonaria teve papel relevante durante momentos de tensão política relacionados à ameaça do comunismo, especialmente no período da Guerra Fria. Lojas maçônicas atuaram como espaços de debate e esclarecimento, buscando proteger a democracia e a pluralidade de ideias. Essa postura consolidou a imagem da Maçonaria como guardiã dos direitos civis e da liberdade.
Este artigo busca explorar a relação entre a Maçonaria e o combate ao comunismo, abordando a filosofia maçônica, os conflitos históricos, a atuação no Brasil e no mundo, além das razões pelas quais a Ordem se posicionou de forma crítica diante desse sistema ideológico.
A Filosofia Maçônica e a Liberdade Individual
A filosofia maçônica se sustenta em três pilares: liberdade, igualdade e fraternidade. A liberdade, entendida como o direito inalienável de cada indivíduo pensar, crer e se expressar livremente, é central para o pensamento maçônico. Em contrapartida, os regimes comunistas, em suas manifestações históricas, buscaram impor uma única forma de pensamento político e econômico, restringindo a diversidade de ideias e a autonomia do indivíduo.
A Maçonaria defende que o progresso humano é fruto do trabalho individual e coletivo, mas sempre respeitando o direito de cada ser humano de traçar seu próprio caminho. Nesse sentido, qualquer ideologia que negue o direito à propriedade privada e à livre iniciativa é vista como uma ameaça à autonomia do homem. A Ordem acredita que o crescimento econômico e moral é resultado do esforço individual aliado à fraternidade, não de imposições estatais.
Além disso, a filosofia maçônica valoriza a liberdade de crença e a espiritualidade, sem estar vinculada a uma religião específica. O comunismo histórico, ao adotar o materialismo dialético, negou o valor das crenças e da espiritualidade, chegando a perseguir instituições religiosas e filosóficas independentes. Esse antagonismo de visões reforçou a postura da Maçonaria contra o comunismo.
A Maçonaria também promove a educação e o conhecimento como instrumentos de libertação. Regimes comunistas, por sua vez, frequentemente utilizaram a educação como ferramenta de doutrinação ideológica, controlando currículos e reprimindo o pensamento crítico. Para a Ordem, essa supressão do livre pensar é inadmissível.
Outro ponto fundamental é a valorização da meritocracia e do aperfeiçoamento pessoal. Enquanto o comunismo busca nivelar a sociedade eliminando classes sociais, a Maçonaria defende que todos devem ter oportunidades iguais, mas que o mérito e o esforço individual devem ser reconhecidos.
Assim, a incompatibilidade filosófica entre Maçonaria e comunismo é evidente, pois a Ordem rejeita qualquer forma de totalitarismo que tente impor uma visão única do mundo, seja ela política, religiosa ou econômica.
Maçonaria e Regimes Comunistas no Mundo
Durante o século XX, a ascensão de regimes comunistas resultou em uma série de perseguições contra a Maçonaria. Na União Soviética, por exemplo, as lojas maçônicas foram fechadas e seus membros perseguidos. O governo bolchevique via a Maçonaria como uma ameaça por ser uma organização independente, com forte capacidade de mobilização intelectual e filosófica.
Na Europa Oriental, países como Hungria, Polônia e Tchecoslováquia também reprimiram a Maçonaria após a Segunda Guerra Mundial, quando o bloco socialista foi estabelecido sob a influência soviética. A Ordem, assim como as igrejas e outras entidades civis, era considerada “burguesa” e “reacionária”.
Na China, após a revolução comunista de 1949, a Maçonaria foi igualmente extinta, e seus templos foram confiscados pelo Estado. A filosofia marxista-leninista, que enfatiza o materialismo histórico, via qualquer instituição que valorizasse a espiritualidade ou a liberdade de pensamento como uma ameaça ideológica.
Em Cuba, com a ascensão de Fidel Castro, a Maçonaria também enfrentou desafios, embora não tenha sido extinta. Os maçons cubanos foram obrigados a limitar suas atividades e evitar manifestações públicas de oposição ao regime.
Nos Estados Unidos e na Europa Ocidental, durante a Guerra Fria, a Maçonaria se tornou um importante centro de resistência ideológica ao comunismo. Muitas lojas maçônicas promoveram campanhas de conscientização sobre os perigos do totalitarismo, reforçando os valores democráticos.
Esses exemplos demonstram que a relação entre comunismo e Maçonaria sempre foi marcada por antagonismo, com regimes comunistas considerando a Ordem uma ameaça por sua defesa da liberdade e pela recusa em aceitar doutrinas autoritárias.
A Maçonaria no Brasil e a Luta Contra o Comunismo
No Brasil, a Maçonaria desempenhou papel relevante em diversos momentos históricos. Durante o século XX, especialmente nas décadas de 1950 e 1960, a ameaça do comunismo era vista como um perigo para a democracia e os valores ocidentais. Muitas lojas maçônicas, por meio de seus membros, se envolveram em debates e campanhas contra a expansão do ideário comunista.
Com a intensificação da Guerra Fria, a Ordem no Brasil reforçou sua defesa da liberdade individual e da propriedade privada. Documentos e publicações maçônicas da época alertavam para os riscos do comunismo e da perda de direitos civis em caso de uma revolução socialista.
A crise política que levou ao regime militar de 1964 também contou com a presença de maçons nos debates, alguns apoiando o movimento para impedir uma possível guinada comunista, outros criticando os excessos do regime subsequente. A pluralidade de opiniões dentro da Maçonaria sempre existiu, mas o posicionamento oficial da Ordem foi claro quanto à defesa da democracia e da liberdade.
Além disso, a Maçonaria brasileira manteve forte compromisso com a educação, a filantropia e a promoção de valores éticos, combatendo as ideias comunistas por meio da formação crítica de cidadãos e do incentivo ao progresso social sem renunciar à liberdade.
É importante destacar que a Ordem, como instituição, nunca se envolveu diretamente em partidos ou movimentos políticos, mas seus princípios orientaram ações e posicionamentos individuais de seus membros diante do contexto histórico.
Assim, a Maçonaria no Brasil se consolidou como uma força moral e filosófica contrária a ideologias autoritárias, seja o comunismo ou qualquer outro regime que ameace a liberdade e os direitos fundamentais.
Conclusão
A relação entre Maçonaria e comunismo é marcada por um antagonismo profundo de valores. Enquanto a Ordem defende a liberdade de pensamento, a fraternidade e o direito à propriedade, o comunismo, em suas aplicações históricas, restringiu esses direitos em nome de uma ideologia única. A Maçonaria entende que o verdadeiro progresso humano depende da livre escolha, do mérito e do respeito à diversidade de ideias.
Ao longo da história, a Maçonaria resistiu a regimes comunistas por acreditar que eles representam uma ameaça à autonomia do indivíduo e à pluralidade de opiniões. Essa postura se manifestou tanto no Brasil quanto em diversas partes do mundo, consolidando a imagem da Ordem como defensora da democracia e da liberdade.
Mesmo nos dias atuais, a Maçonaria mantém uma vigilância crítica sobre qualquer forma de autoritarismo ou ideologia que busque suprimir os direitos individuais, reforçando seu compromisso com os valores universais que guiam a humanidade rumo ao aperfeiçoamento moral e intelectual.
Referências
- GOB – Grande Oriente do Brasil. História da Maçonaria e seus Princípios. Disponível em: https://www.gob.org.br.
- LOPES, Raimundo. A Maçonaria no Brasil: História e Influência Política. Rio de Janeiro: Record, 2010.
- MARTINS, Cláudio. Maçonaria e Política: Uma História de Lutas pela Liberdade. São Paulo: Loyola, 2015.
- PEREIRA, Álvaro. Comunismo e Democracia: Conflitos Ideológicos no Século XX. Porto Alegre: Ed. UFRGS, 2018.
- SMITH, Robert. Freemasonry and Politics: A Global History. New York: Routledge, 2020.