Aristóteles (384 a.C. — 322 a.C.) foi um filósofo, cientista e matemático grego. Ele foi discípulo de Platão e mais tarde tornou-se preceptor de Alexandre, o Grande. Sua obra abrange uma ampla variedade de tópicos, incluindo ética, política, lógica, filosofia da mente, biologia, poética e física. Ele é considerado um dos maiores pensadores da história, e suas ideias tiveram um grande impacto na filosofia, ciência, literatura e educação ao longo da história. Sua ética e política foram a base da teoria política medieval e renascentista, e sua lógica e metafísica são consideradas a base da filosofia ocidental até os dias de hoje.

Conhecido por sua vasta obra ele também escreveu um tratado chamado “Retórica”, que é considerada uma das obras mais importantes sobre o assunto. Nela, o autor define a retórica como “a arte do bem falar” e fornece princípios e técnicas para ajudar os oradores a se comunicarem de maneira eficaz.

A retórica foi algo essencial na antiguidade e também o é nos dias de hoje por várias razões:

Na comunicação eficaz por fornecer princípios e técnicas para se comunicar de maneira clara e convincente, o que é fundamental em muitas áreas, como negócios, política e educação;

Para a tomada de decisão por auxiliar as pessoas a avaliar e compreender argumentos e opiniões diferentes, o que é essencial para tomar decisões melhores;

Na liderança a habilidade de se comunicar de maneira eficaz e persuasiva é crucial em qualquer área de atuação do indivíduo em qualquer grupo ou sociedade;

Na educação a compreensão da retórica e suas técnicas pode ajudar os estudantes a se comunicarem de maneira mais assertiva e a avaliar argumentos e opiniões criticamente;

Para as mudanças sociais: a retórica também pode ser usada para ajudar a mudar opiniões e comportamentos sociais, por exemplo, em campanhas de conscientização sobre questões importantes como meio ambiente, saúde e direitos humanos.

Para Aristóteles a retórica é também a arte da persuasão. Ele a definiu a como “a capacidade de discernir o que é convincente em qualquer tipo de discurso”. A considera como uma arte prática, que pode ser usada tanto para fins positivos quanto negativos.

O filósofo identificou três tipos de discursos a saber: deliberativo (discute ações a serem tomadas no futuro), judiciário (abrange ações passadas) e epidíctico (discurso para elogiar ou criticar). Também categorizou três tipos de audiências: simpática, hostil ou neutra. Ele aconselha os oradores a se adaptarem ao seu público e ao tipo de discurso que estão fazendo.

Aristóteles enfatizou três elementos que fundamentam um discurso. O Ethos que ressalta o caráter do orador, o Pathos que influencia a emoção do público e o Logos que constitui racionalidade e lógica à fala (ou ao texto). Acreditava que um orador deveria apresentar-se como confiável e honesto (Ethos), evocar emoções apropriadas no público (Pathos) e apresentar argumentos lógicos e consistentes (logos) para persuadir o público.

Para ele, o Ethos é a imagem de caráter ou credibilidade do orador que é construída na mente do público. Aconselhava os oradores a serem conhecidos pelos seus bons atributos, tais como virtudes morais, inteligência, experiência, educação e autoridade no assunto. Ele também aconselhava os oradores a serem honestos e transparentes sobre suas intenções e a evitar mentiras, enganos e sofismas. Também dizia que o Ethos pode ser construído por meio da linguagem. Ele acreditava que um orador deveria usar uma linguagem apropriada para o assunto e para o público, e evitar linguagem vulgar ou confusa. Aconselhava os oradores a evitar exageros e a serem consistentes em sua linguagem e argumentação.

O elemento Pathos é outra forma de convencimento que se baseia em evocar emoções no receptor para convencê-lo de algo. Refere-se especificamente a como o orador usa as emoções para conectar-se com o público e alcançar seu objetivo persuasivo. Aristóteles acreditava que ao evocar emoções relevantes e positivas, o orador poderia aumentar a probabilidade do público concordar com sua argumentação e, consequentemente, ser convencido pela sua proposta.

O Logos se refere à lógica e a racionalidade que devem estar presentes em um discurso, e ressalta a importância de usar argumentos sólidos e coerentes para convencer o público. Aristóteles afirmava que o logos é o componente mais importante da retórica, pois ele é o que dá sustentação a fala e o que a torna verdadeiramente persuasivo. Ele argumentava que um discurso bem-estruturado e baseado em fatos e lógica tem mais chances de ser aceito pelo público do que um discurso que se baseia apenas em emoções ou na reputação do orador.

Observar os elementos Ethos, Pathos e Logos em qualquer discurso nos permite identificar as intenções do comunicador e avaliar sua argumentação de forma crítica. A ênfase em cada um destes três elementos frequentemente leva em consideração as características do público a quem a fala está direcionada. Sob esta ótica a análise de um discurso pode potencialmente descortinar anseios de manipulação por parte do orador quando por exemplo se pretende influenciar sentimentos, paixões produzindo desconfianças, animosidades, medos, revoltas se o elemento Pathos se sobressarir ante aos outros dois.

É comum aos oradores buscarem frases de efeito dentro e fora de seu contexto original de personagens de destaque na história, ou que sejam referenciais em sua área de atuação e expertise, homens e mulheres renomados na ciência, artes, empresas, visando engendrar o elemento Ethos em seus discursos e assim tentarem associar a estes personagens suas próprias ideias, planos e valores que desejam disseminar ao público.

Geralmente o elemento Logos tende a ser negligenciado. Propositadamente ou não a depender da vontade e capacidade do orador e de adequação ou inadequação de seu discurso para com os espectadores. É de natureza mais complexa, requer significativo esforço de racionalidade e elaboração justamente por não ser algo espontâneo e instintivo para maioria dos indivíduos. É a lógica que fundamenta, ordena, estrutura a argumentação e a inferência a partir de premissas reais. Sendo uma ferramenta da razão humana a lógica demanda capacidade crítica de quem discursa e de quem escuta.

O discurso ideal balanceia os três elementos, mas poderá estar inadequado a depender da audiência.

O grande pensador também desenvolveu a técnica da “silogismo” que é uma forma de raciocínio lógico que consiste em partir de premissas gerais para chegar a uma conclusão específica. O “silogismo categórico”, formulado por ele é composto por duas premissas e uma conclusão. As premissas são afirmações universais e as conclusões são afirmações particulares. Por exemplo:

1. Premissa 1: Todos os homens são mortais.

2. Premissa 2: Sócrates é um homem.

3. Conclusão: Sócrates é mortal.

1. Todos os polígonos com quatro lados são quadriláteros.

2. Um retângulo é um polígono com quatro lados.

3. Portanto, um retângulo é um quadrilátero.

O silogismo é uma forma poderosa de construir fortes argumentos, pois permite ao orador construir uma lógica sólida e coerente para apoiar sua proposta. Ele também acreditava ser uma ferramenta importante para ajudar as pessoas a pensar de forma crítica e racional.

Compreendia o filósofo a importância da estrutura, do estilo e da utilização de figuras de linguagem na retórica. Ele acreditava que uma boa estrutura e um estilo claro e conciso eram essenciais para a persuasão eficaz, e que as figuras de linguagem podem ser usadas para destacar pontos importantes e criar imagens poderosas na mente do público.

Entretanto, para Aristóteles em muitos discursos grassam erros lógicos ou argumentos falhos. Aqueles que aparentam serem verdadeiros, mas na realidade não o são. São as falácias que podem enganar o ouvinte ou distorcer a realidade aparentando coerência. Ressaltava a importância de identificar e evitar falácias ao construir um argumento persuasivo para impedir o convencimento das pessoas com argumentos falsos ou enganosos ou não deixar-se enganar por eles. Ele identificou vários tipos de falácias, incluindo:

  • Ad hominem: atacar a pessoa que faz um argumento, em vez de atacar o argumento em si
  • Ad populum: apelar para as emoções ou desejos da multidão em vez de apresentar um argumento lógico
  • Ad baculum: ameaçar o ouvinte para convencê-lo.
  • Falso dilema: sugerir que só há duas opções possíveis quando existem mais
  • Falácia do Pêndulo: sugerir que um argumento é verdadeiro porque o oposto é falso.

Para ele, combater falácias é algo essencial para evitar enganar ou distorcer a verdade para o público e apresentou algumas maneiras de combater as falácias:

  • Identificar: é importante reconhece-las e entender suas estruturas para saber como combatê-las;
  • Análisar criticamente: é importante analisar argumentos e discursos com um pensamento crítico para detectá-las;
  • Apresentar fatos: para combatê-las é importante apresentar evidências para apoiar o argumento e contrastá-las;
  • Utilizar a lógica: o raciocínio para refutar argumentos falaciosos, mostrar incongruências e a falta de racionalidade.
  • Apresentar contrapontos e outras perspectivas para enriquecer o debate e evitar falsos falso dilemas.

A análise de discurso sob a perspectiva de Aristóteles enfatiza a importância da honestidade intelectual na comunicação. Ele acreditava que o objetivo da argumentação era chegar à verdade através da troca de ideias e da apresentação de argumentos sólidos. No entanto, desde a antiguidade até os dias de hoje, a manipulação e a desinformação são frequentemente usadas para influenciar a opinião pública e enganar as pessoas.

A manipulação pode ser vista como uma forma de violar a honestidade intelectual, pois se baseia em técnicas disfarçadas de argumento que visam influenciar as emoções e as opiniões sem apresentar fundamentação sólida. Isso pode levar à desinformação e à disseminação de notícias falsas, ou o que atualmente nominamos “fake news”, que podem ter graves consequências para a sociedade.

A desinformação e as fake news são especialmente perigosas porque podem ser amplamente compartilhadas e influenciar a opinião pública, especialmente após o advento da internet e das redes sociais. Isso pode levar a erros de julgamento, decisões ruins e em larga medida contribuir para polarização política e social.

Por isso, é essencial que se valorize a honestidade intelectual e a busca da verdade, rejeitando a manipulação e a desinformação. Isso pode ser feito, por exemplo, através da promoção da educação crítica e da verificação de fontes responsáveis antes de compartilhar informações em especial nas redes sociais. Ao valorizarmos a honestidade intelectual e a verdade, podemos construir uma sociedade mais informada, justa e livre.

Sobre o Autor