Resumo

Este artigo tem como objetivo analisar a origem das favelas no Brasil, contextualizando seu surgimento no final do século XIX e compreendendo os fatores históricos, econômicos e sociais que contribuíram para sua formação. A partir de uma abordagem histórica e sociológica, discute-se o processo de urbanização desigual, a exclusão social, a falta de políticas habitacionais e a herança da escravidão como elementos estruturantes da questão habitacional brasileira. Por meio de revisão bibliográfica, busca-se compreender como o fenômeno das favelas transcendeu sua origem no Rio de Janeiro, tornando-se um traço característico das metrópoles brasileiras e um símbolo das desigualdades persistentes.

Palavras-chave: Favela, Urbanização, Desigualdade social, Exclusão, História do Brasil.

1. Introdução

O termo “favela” remete a um tipo de ocupação irregular, marcada pela precariedade das condições de moradia e pela ausência de infraestrutura adequada. Contudo, sua origem está profundamente enraizada na história do Brasil pós abolição e nas transformações urbanas ocorridas no final do século XIX. O surgimento das favelas não foi um fenômeno espontâneo, mas resultado direto de processos de exclusão social, segregação espacial e ausência de políticas públicas efetivas voltadas à população de baixa renda.
O objetivo deste estudo é investigar as origens da favela no Brasil, compreender as causas estruturais que levaram à sua formação e refletir sobre seu significado social e simbólico ao longo do tempo.

2. O contexto histórico do surgimento das favelas

O nascimento das favelas no Brasil está intimamente ligado à cidade do Rio de Janeiro, antiga capital federal, no período imediatamente posterior à Guerra de Canudos (1896-1897). Muitos soldados que lutaram na Bahia foram trazidos ao Rio e, sem receber os lotes de terra prometidos, ocuparam o Morro da Providência, próximo à região central. A vegetação local era composta por uma planta espinhosa chamada “favela”, comum na região de Canudos — e foi daí que o nome se popularizou (Valladares, 2005).

Paralelamente, o Rio passava por um processo de “modernização” e “embelezamento”, inspirado nos modelos europeus. A reforma urbana do prefeito Pereira Passos (1903-1906) provocou a demolição de cortiços e a remoção de milhares de famílias pobres do centro, que, sem alternativas, ocuparam morros e encostas (Abreu, 1987). Assim, as favelas tornaram-se o destino daqueles que foram excluídos do processo de urbanização formal.

3. A herança da escravidão e a exclusão social

A Abolição da Escravatura em 1888 não foi acompanhada por políticas de inserção social, educação ou acesso à moradia para os libertos. Sem recursos e sem terra, muitos ex-escravizados migraram para as cidades em busca de trabalho. Contudo, as oportunidades oferecidas pelos centros urbanos eram limitadas e discriminatórias.
Como observa Ribeiro (1997), a formação das favelas está diretamente ligada à exclusão dos negros e pobres do espaço urbano formal. Essa herança de desigualdade estrutural perpetuou-se, moldando as relações sociais e raciais nas cidades brasileiras até os dias atuais.

4. O processo de urbanização e a expansão das favelas

Durante o século XX, o Brasil experimentou intenso êxodo rural e acelerada urbanização, especialmente entre as décadas de 1940 e 1980. A industrialização atraiu milhões de trabalhadores do campo, mas as cidades não estavam preparadas para absorver esse contingente populacional.
A ausência de uma política habitacional eficaz, aliada à especulação imobiliária, empurrou as populações de baixa renda para áreas periféricas e irregulares. Assim, o fenômeno das favelas, inicialmente restrito ao Rio de Janeiro, espalhou-se por todo o território nacional — em cidades como São Paulo, Salvador, Recife e Belo Horizonte (Maricato, 2000).

5. As favelas como espaço de resistência e cultura

Apesar de historicamente marginalizadas, as favelas também se tornaram espaços de resistência, solidariedade e produção cultural. Segundo Perlman (2010), a favela não deve ser vista apenas como um problema urbano, mas como uma forma de organização social alternativa, onde emergem redes comunitárias e expressões culturais autênticas.
O samba, o funk, o grafite e outras manifestações culturais são exemplos da potência criativa das periferias urbanas, que desafiam o estigma social e afirmam uma identidade própria.

6. Políticas públicas e desafios contemporâneos

A partir da década de 1980, com a redemocratização, surgiram programas governamentais voltados à urbanização de favelas, como o Favela-Bairro (década de 1990) e o PAC-Habitação (anos 2000). Embora importantes, tais políticas ainda enfrentam o desafio da continuidade, da integração social e do combate à violência estrutural.
Hoje, as favelas são reconhecidas não apenas como espaços de carência, mas também como territórios de inovação social e econômica. Iniciativas de empreendedorismo, turismo comunitário e economia criativa vêm transformando a percepção e o papel dessas comunidades no cenário urbano contemporâneo.

7. Conclusão

A origem da favela no Brasil é resultado de um conjunto de fatores históricos e estruturais: a abolição sem inclusão, o processo excludente de urbanização e a ausência de políticas públicas de habitação. Mais do que um problema urbano, a favela representa o reflexo das desigualdades sociais e raciais que marcam a formação da sociedade brasileira.
Compreender suas origens é essencial para a construção de políticas efetivas de inclusão social e desenvolvimento urbano sustentável. Valorizar as potencialidades culturais e humanas das favelas é reconhecer sua importância na identidade nacional e no futuro das cidades brasileiras.

Referências

  1. ABREU, Maurício de Almeida. A evolução urbana do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: IPLANRIO, 1987.

  2. MARICATO, Ermínia. Habitação e cidade: o problema e o desafio. São Paulo: Contexto, 2000.

  3. PERLMAN, Janice. O mito da marginalidade: favelas e política no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2010.

  4. RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.

  5. VALLADARES, Licia do Prado. A invenção da favela: do mito de origem à favela.com. Rio de Janeiro: FGV, 2005.

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