É inegável o enorme, profundo e disruptivo impacto da inteligência artificial no mercado de trabalho nos últimos anos e nos próximos anos. E sejamos realistas, boa parte dos empregos atuais corre o risco de desaparecer em um futuro breve.

À medida que a inteligência artificial supera os seres humanos em tarefas cada vez mais complexas, ela os substituirá em mais e mais trabalhos. E o ritmo do progresso é tão acelerado que, dentro de mais alguns anos, os profissionais podem ter que se reinventar novamente.

O avanço tecnológico e o advento de inteligências artificiais generativas tornam o acesso à informação algo irrestrito. A importância e o grande diferencial cada vez menos está na habilidade de se obter informações precisas e muito mais na capacidade de correlacioná-las de forma eficaz, encontrar correspondências e inter-relacioná-las para gerar soluções criativas e, portanto, valor.

Como reagir a isso? Quais as habilidades nós profissionais devemos buscar desenvolver primordialmente de agora em diante?

Por tudo o que tenho lido e observado, isso significa que as profissões provavelmente exigirão mais criatividade, flexibilidade ou adaptabilidade de agora em diante para que os indivíduos possam acompanhar o ritmo do progresso.

Com a automatização das atividades rotineiras a demanda por habilidades criativas e inovadoras vai aumentar, creio que de maneira explosiva. Para além disso, criatividade também será vital para encontrar novas maneiras de trabalhar em colaboração com a IA generativa, aproveitando ao máximo suas capacidades e ajudando a superar suas limitações, que ainda são muitas. A combinação da inteligência artificial com a criatividade humana pode ser extremamente poderosa, permitindo a criação de soluções inovadoras e únicas.

E a adaptabilidade ou flexibilidade? Em primeiro lugar porque são características intrínsecas de um perfil profissional inovador, pois a criatividade envolve a habilidade de “pensar fora da caixa”, “sair da zona de conforto”, ultrapassar estes e outros clichês para encontrar soluções inovadoras e lidar de maneira confiante com situações desafiadoras.

Um profissional flexível é capaz de se ajustar rapidamente às mudanças no ambiente de trabalho, identificar novas oportunidades e enfrentar desafios de forma criativa e eficaz. A adaptabilidade permite que o profissional se mantenha aberto a novas ideias, perspectivas e abordagens, o que pode levar justamente a soluções criativas e inovadoras.

Ele é capaz de lidar com a incerteza e a complexidade de maneira mais eficiente, o que pode levar a novas ideias e oportunidades de negócios. Essas habilidades também permitem que o profissional trabalhe bem com pessoas de diferentes origens, culturas, formas de pensar e de interagir profissionalmente, o que potencialmente enriquecerá ainda mais a sua criatividade.

Mas e ai? Como ser mais flexível ou adaptável e também o que fazer para nos tornarmos mais criativos?

Convido você a parar por um momento e realizar uma pesquisa no Google, Bing, Chat GPT, no LinkedIn sobre as principais características necessárias ao profissional do futuro. Em 99% das pesquisas, encontraremos “inteligência emocional”.

No contexto atual em que vivemos, marcado por mudanças aceleradas, transformações tecnológicas constantes e uma grande quantidade de novos conteúdos, precisamos tomar inúmeras decisões diariamente o que significa renunciar simultaneamente a outras possibilidades, o que implica lidar com incertezas e o peso de possíveis falhas e erros. Como assimilar portanto as dores e frustrações consequentes deste processo?

Saber lidar bem com as emoções, tanto as próprias quanto as dos outros, é uma habilidade valiosa em qualquer ambiente e particularmente o de trabalho e o que antes era considerado pelos headhunters e contratantes como um diferencial passa a cada dia, cada vez mais a ser algo imperativo.

Inteligência emocional ou como prefiro chamar devido a sua abrangência de autoconhecimento permite que o indivíduo reconheça suas próprias limitações, seus pontos fortes e as áreas de melhorias necessárias ao seu desenvolvimento. Com isso, ele pode trabalhar para ampliar suas habilidades e competências, tornando-se mais adaptável a novas situações e desafios.

No âmbito profissional o autoconhecimento contribui decisivamente para o processo de aprendizado e principalmente para o “desaprendizado”, processo de desaprender conhecimentos, hábitos, crenças ou comportamentos que já não são mais úteis, verdadeiros ou estão ultrapassados.

Desaprender é uma forma de desconstruir conceitos pré-estabelecidos e abrir espaço para novas aprendizagens e possibilidades. O desaprendizado é difícil, pois muitas vezes estamos acostumados a certas maneiras de fazer as coisas ou pensar sobre determinados assuntos, mas é fundamental para o crescimento e desenvolvimento pessoal e profissional. É importante estar aberto a desaprender e reaprender ao longo da vida.

O autoconhecimento permite que o indivíduo lide melhor com as dores e frustrações inerentes a este processo superando as resistências e dificuldades intrínsecos a ele. Aprender a superar esses desafios de maneira saudável e produtiva é fundamental para desenvolver a resiliência e a perseverança necessários na contemporaneidade.

Autoconhecimento naturaliza o acolhimento da vulnerabilidade e a assimilação de que aprendemos muito mais com os erros do que com os acertos. Aprender com os erros é algo fundamental do desenvolvimento humano e profissional. Ao reconhecer as próprias falhas, o indivíduo pode trabalhar para se auto aprimorar.

Ao nos conhecermos bem, e portanto ao fortalecermos nossa inteligência emocional passamos a lidar melhor também com as frustrações e dores dos outros (que muitas das vezes espelham nossas culpas). A empatia e a compaixão são habilidades valiosas em qualquer ambiente e isso inclui sim o ambiente de trabalho. Ao compreender as perspectivas dos outros, o indivíduo pode trabalhar melhor em equipe, resolver conflitos de maneira eficaz e liderar de forma assertiva e eficaz.

Caro leitor falta ainda falarmos de criatividade. E caso alguém esperasse por um roteiro apontando na direção de como ser um profissional criativo ou mais criativo, aqui não haverá, pois grassam muitos destes roteiros na internet, são encontrados facilmente através das mesmas ferramentas que mencionei no início deste artigo.

Todas as informações que encontrarão versarão sobre a necessidade ampliar o repertório como algo fundamental para se tornar uma pessoa mais criativa, pois o contato com novas ideias, perspectivas e experiências pode gerar inspiração e estimular a imaginação. Além disso, quanto maior for o repertório, maior será a capacidade de conectar ideias e conceitos aparentemente desconexos, o que é uma das características centrais da criatividade.

E como ampliar nosso repertório? O óbvio, incorporar à nossa vivência e nossas experiências cotidianas conteúdos de qualidade o que pode ser por meio de leitura, vídeos, podcasts, documentários, filmes, viagens, novos lugares, interagindo, acolhendo e buscando conhecer visões diversas das quais estamos habituados. Extremamente importante estar sempre aberto a aprender coisas novas e estar disposto a explorar novas possibilidades de interpretações. Procurar criar novas conexões entre ideias e conceitos, isso favorece geração de insights criativos e soluções inovadoras para problemas complexos.

Raramente reuniremos as condições ideais para dar início a um novo projeto, seja ele de auto aprimoramento ou qualquer outro. O autoconhecimento ou inteligência emocional são sim fundamentais para o desenvolvimento de atributos como flexibilidade, adaptabilidade e criatividade e até aqui busquei demonstrar os porquês. A consciência disso por mais desafiadora que se apresente não é a parte mais difícil. Nosso maior desafio depois de assimilar este conteúdo é vivenciar a prática de tudo isso. E precisamos começar e logo.

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